"Dois eticistas as universidades de Melbourne e Oxford defendem no "Journal of Medical Ethics" que matar recém-nascidos é eticamente justificável pelos mesmos motivos, incluindo motivos "sociais" e "económicos", por que se permite o aborto.
Gente respeitável como Peter Singer havia já admitido, em nome do mais radical neo-utilitarismo moral, o direito a matar recém-nascidos deficientes profundos cuja sobrevivência fosse expectavelmente origem de infelicidade para o próprio e família.
Ninguém tinha ido ao ponto (até os mais primários pós-benthamianos reconhecem, em geral, limites à mera aritmética do sofrimento-prazer e infelicidade-felicidade) de justificar a morte de bebés saudáveis com "os encargos sociais, psicológicos e económicos" que os pais suportariam com eles.
Fizeram-no agora os autores do ominoso artigo do "Journal of Medical Ethics", alegando que o bebé não é "ainda" uma pessoa no sentido de "sujeito de um direito moral à vida" pois não tem ainda "expectativas".
Fica aberta a larga porta da Ética para que velhos, doentes incuráveis e, porque não?, reformados ou desempregados sem hipótese de regresso ao mercado do trabalho, que não são "já" pessoas pois deixaram de ter "expectativas", possam ser abatidos de modo a poupar "encargos" à família e ao Estado.
Não há-de ser difícil justificá-lo, como fez a dra. Ferreira Leite com os idosos dependentes de hemodiálise e sem meios para a pagar."
Não podia deixar de partilhar este texto. Para onde estaremos a caminhar? Será que vamos continuar a encontrar justificações para tudo o que fazemos de mais indescritível? Será que vamos continuar a catalogar como dispensáveis todos quantos nos parecerem elimináveis, um fardo, um encargo extra? Será que vamos deixar de ter valores (já tão raros hoje em dia) por completo, passando a eliminar tudo o que não nos apetece? O que virá a seguir? A criança não tem olhos azuis, cabelo aos caracóis, tem um sinal inestético...justifica-se matá-lo, porque afinal, ainda não é uma pessoa, não tem expectativas? Agora não me dá jeito nenhum ter mais uma boca para manter, por isso é melhor matar? Quando acho que o ser humano bateu no fundo e não tem limites...lá aparece outro limite para a sua brutalidade, inumanidade...Bravo a estes senhores eticistas, cujos pais os receberam, apesar do encargo que deram com toda a certeza, tornadas pessoas do mais alto gabarito, pelas suas excelentes expectativas! Bravo pelo enorme ego que têm...por se acharem no direito de opinar sobre "não pessoas" e sobre o seu direito ou não à vida...bravo pela visão de futuro! Bravo por saberem de antemão que estas não pessoas serão motivo de infelicidade para as famílias...bravo por serem tão infinitamente éticos que consideram que cortar o "mal" pela raiz é o mais acertado...afinal não se trata de pessoas...se assim fosse seria com toda a certeza diferente! Será que estes senhores teriam a coragem de denominar de não pessoa e, eliminá-la à nascença, um filho seu? Se calhar...
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