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terça-feira, 17 de julho de 2012

O (triste) estado da Educação

Que a educação em Portugal anda pelas ruas da amargura, não é novidade para ninguém...mas ter a certeza de que um professor nada é mais do que um número, sem valor absolutamente nenhum, descartável e sempre, sempre substituível é uma conclusão demasiado triste...
Passou-se do 8 para o 80 e a figura do professor passou a ser desprezada. Deixou de ter qualquer tipo de autoridade para dar lugar ao faz-tudo: educador, professor, (muitas vezes) pai e mãe, confidente, amigo, funcionário administrativo, "boneco" na mão da Administração...sem ser reconhecido pelo seu trabalho. 
Eu ainda sou contratada o que significa que não tenho direito sequer a pensar no oásis "estabilidade". Não tenho direito a férias no verão, pois são gozadas nas interrupções lectivas. Não tenho calma até ao fim de Agosto, altura em que o meu futuro (no que diz respeito aos meses seguintes) é decidido. Todos os finais de Junho passados no Centro de Emprego, a mendigar para receber a "migalha" a que tenho direito, mas que o Governo teima sempre em complicar (para depois dar tudo e mais alguma coisa a ciganos e imprestáveis, que fazem tudo menos trabalhar...). Já pensei muitas vezes em mudar de carreira...mas adoro demais o que faço para ter a coragem suficiente de lhe virar as costas. 
Ontem soube que um colega foi dispensado, porque reestruturaram as turmas. Porque turmas de 19 eram  demasiado pequenas...e o ideal é 25...ou 30...com vários níveis juntos...isto dito por alguém que nunca pôs o rabinho numa bela de uma sala de aula, mas tem o poder de decidir o triste estado em que está a educação, neste belo jardim à beira mar plantado! Não importa que a pessoa seja a mais dedicada, e não só ao nível da sua profissão (que isso para mim faz parte), mas que dê tudo de si em todos os projectos e mais alguns, que gaste do seu tempo pessoal em prol do bem dos seus alunos...nada disso importa minimamente! Nem sequer a continuidade pedagógica...nada...
E é triste concluir que por mais que façamos nunca vai ter peso algum...




10 comentários:

  1. É verdade que a profissão de professor é complicada, mas por outro lado, quantos engenheiros não estão empregados, porque pura e simplesmente não há mercado? A mim sempre me fez confusão esta história de que o governo tem de dar emprego a todos os professores e mais alguns, porque sim. Vão para o privado. Ah, espera, as mordomias dos professores dos quadros são ótimas - não falo de cor, conheço vários casos em que ganham muito bem e trabalham 22 horas por semana!
    E esta desculpa do "gosto demasiado do que faço" também se aplica às outras profissões, mas nem por isso o governo se sente na obrigação de empregar todas as outras pessoas.
    Desculpa o desabafo, nada contra os professores ou contra ti, ok? :)
    Boa sorte.

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    1. Entendo o que queres dizer, mas não concordo. E isto porque há algum tempo que os professores não progridem na sua carreira (dificilmente agora um professor vai para os quadros), o que significa que aqueles salários absurdos que se viam há uns anos deixaram de existir para os novos professores. Quanto às 22 horas semanais...também entendo sem concordar. Entendo, porque só quem é professor ou vive com um sabe que as horas extra dadas (porque não são pagas) depois de expediente e aos fins de semana são mais do que muitas, pois as aulas não se preparam sozinhas, os testes não se corrigem sozinhos, as reuniões (que agora são mais que muitas também, devido à burocracia excessiva) não se fazem pelo Skype a partir da praia...(ah e o trunfo "mas têm 3 meses de férias" não passa de um mito urbano, pois cada professor tem o mesmo tempo de férias que qualquer trabalhador...tem de se apresentar na escola e fazer outro tipo de trabalhos que não dar aulas.
      E quanto à "desculpa" GOSTO DEMASIADO DO QUE FAÇO só é usada porque só com amor à profissão, grande parte das vezes quase se paga para poder trabalhar (que foi o meu caso durante algum tempo). Só posso falar da realidade que conheço de perto, por ser a minha.
      Também não acho que o governo deva empregar todos os professores. Devia até fechar todos os cursos de ensino por uns anos. Mas devia premiar os melhores e os mais dedicados com trabalho no ano seguinte. Mas prefere valorizar outro tipo de profissionais!
      E quanto ao resto, olha...os desabafos são isso mesmo...desabafos! E quando escrevo alguma coisa estou sujeita a todas as opiniões, mesmo as que vão contra a minha. E eu gosto de saber todos os pontos de vista! Sem problemas!
      Obrigada, mas a sorte aqui não tem lugar...contam números, que é afinal o que somos! Beijinhos! ;)

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    2. Su, os privados raramente progridem. É um facto! Portanto porque é que ter anos de casa dá direito a progressão na carreira? Trabalhar numa empresa privada a fazer o que quer que seja, obriga a horas infinitas de trabalho "gratuito": Eu por exemplo trabalho pelo menos das 8/20h todos os dias e só recebo 8h por dia...
      Aos fins de semana também trabalho e muito e até pelo skype se trabalha...
      Eu também gostava do que fazia e tive de mudar porque não dava mais, portanto é sempre complicado...
      Porque é que não vais para o privado?

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    3. Mais uma vez entendo sem concordar! TODAS as horas deveriam ser pagas...TODAS em TODOS os trabalhos! Mas isso era começar aqui a guerra dos sexos...nunca mais chegavamos a lugar nenhum. Dei este exemplo porque já muitas vezes fui "atacada" com a máxima "os professores não fazem nada e ainda têm 3 meses de férias!"...e isto não porque estava a haver uma discussão mas simplesmente pelo facto de saberem que sou professora. Há pessoas que têm quase que um ódiozinho de estimação aos professores, sem se lembrarem que, por exemplo, um bom professor primário ajuda na construção do nosso ser, a par com os pais e familiares mais chegados. No meu caso, opto por não escolher o privado por ser a maior chulice que há...pedem recibos verdes, na maioria dos casos e pagam muito aquém do que deveriam...o mesmo acontece em centros de estudo e explicações...mas esta vertente da vida de um professor, muita gente não vê e prefere agarrar-se à imagem mais que ultrapassada do que era ser professor...

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  2. Concordo com quase tudo o que disse, quer no post, quer no comentário acima. Terminei agora a licenciatura em Educação Básica e, como tal, não podia concordar que se fechassem todos os cursos de ensino, pois, tal como gosta muito do que faz outras pessoas como eu sonham fazê-lo e isso seria não nos permitirem fazê-lo. Essa é uma opinião de quem teve oportunidade de tirar o curso e seria uma medida injusta, o mais sensato não seria encerrar, mas sim reduzir ao número de vagas (que são mais que muitas) e fazer um exame de admissão ao curso e não de admissão à carreira, por exemplo.
    Pelo que tenho visto, o curso de Educação Básica tem sido uma alternativa por muitos alunos por não conseguirem entrar no curso pretendido, ao contrário de mim, que sempre foi a minha primeira e única escolha.
    Recordo-me agora que no ano anterior ao meu ingresso no ensino superior, na universidade de Trás-os-Montes, o último colocado tinha 9,5 valores, dá que pensar...
    É verdade que posso estar a entrar para o abismo, a situação já estava muito complicada para os professores mesmo antes de iniciar a licenciatura, mas tal como muitos professores, sonho um dia fazer algo que gosto muito, dar aulas.
    Conheço de perto todo o trabalho que o professor tem depois das aulas e não é isso que me desanima, também sei a vida incerta que tem durante anos mas também não é isso que me desanima.
    Desanima-me a falta de respeito que cada vez mais se nota em todo o país, isso sim é assustador, já que para mim é a profissão mais importante que existe... mesmo acima dos médicos, porque não há nenhum médico que não tenha que passar por um professor para o ser.
    E voltando ao seu comentário em que refere que os melhores deviam ser premiados, concordo totalmente, mas sabe, melhor que eu, que existem professores que não fazem parte "dos melhores" e que estão a tirar lugar aos bons professores, que por serem novos não têm colocação. Ser bom professor em Portugal não basta ser bom, é preciso ter muitos anos de serviço e nem sempre isso é sinónimo de qualidade.

    E isto também é um desabafo, a minha opinião. É o olhar de quem vê o futuro muito negro mas que sonha um dia fazer o que realmente gosta, mesmo sabendo das dificuldades e do trabalho que isso exige. É certo que é também a opinião de quem não está no terreno, mas que sente alguma frustração mesmo assim.

    Beijinhos e boa sorte para o próximo ano letivo

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    1. Tens razão...mas sou mesmo assim, um pouco radical! Também tirei o meu curso na UTAD, mas a média para entrar não era negativa. Depois queixam-se que estão a formar professores que nem sabem escrever direito! Pudera! A entrar na faculdade com média negativa, querem o quê? Milagres?
      Que o próximo ano seja próspero para todos! ;) Beijinho

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    2. Antes de se começar a licenciatura deviam todos ser obrigados, tal como os médicos, por exemplo, a fazer um teste de aptidão, porque nem todos os professores o são...
      Concordam?

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    3. Sem qualquer sombra de dúvida! Tenho a certeza que se houvesse um qualquer teste de aptidão ou vocação, haveria muitas vagas por preencher no início de cada ano lectivo!

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    4. Era isso que achava correto e acreditem que o número de vagas aumentava mesmo. Nestes 3 anos vi muita gente escolher este curso só porque sim e é triste isso.
      Quanto ao que disse no comentário em relação à UTAD, peço desculpa mas foi engano, essa média foi em Bragança.

      Beijinhos

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